terça-feira, 30 de novembro de 2010

decidida



Então vou pegar as conchas do chão. Enquanto você passa e passa. Enquanto você pisa e pisa. Enquanto você se fere praguejando contra as ondas que as formaram. Amaldiçoando todo o cálcio que as cultivaram. Vou pegá-las todas. Todas as conchas que brilharem ao entardecer. Só as conchas que brilharem ao entardecer. Porque sei, e sei com a força das correntes marítimas, que na penugem do meu pescoço, uma a uma fincará seu limo. Em meu busto farto de vida, de mulher grávida de esperança, elas encontrarão toda a beleza que merecem. Porque de grãos, terão meus poros. Sentir-se-ão em lar salgado lar. Porque de água se fartarão com meu suor. E toda a água e sal que de mim vier. Porque essa é única forma de agradecê-las todas. Agradecê-las pela lição milenar de guardar inimigos em pérolas.