terça-feira, 30 de novembro de 2010

decidida



Então vou pegar as conchas do chão. Enquanto você passa e passa. Enquanto você pisa e pisa. Enquanto você se fere praguejando contra as ondas que as formaram. Amaldiçoando todo o cálcio que as cultivaram. Vou pegá-las todas. Todas as conchas que brilharem ao entardecer. Só as conchas que brilharem ao entardecer. Porque sei, e sei com a força das correntes marítimas, que na penugem do meu pescoço, uma a uma fincará seu limo. Em meu busto farto de vida, de mulher grávida de esperança, elas encontrarão toda a beleza que merecem. Porque de grãos, terão meus poros. Sentir-se-ão em lar salgado lar. Porque de água se fartarão com meu suor. E toda a água e sal que de mim vier. Porque essa é única forma de agradecê-las todas. Agradecê-las pela lição milenar de guardar inimigos em pérolas.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Achado

Acho que cheguei a uma conclusão. Talvez a mais importante de todas. Descobri o que somos. Somos o que encontramos nos últimos cinco minutos de lucidez diária. Exatamente os últimos cinco minutos do dia. Quando antes de pregar os olhos. Quando sonhamos sonolentos com dias melhores. Quando descansamos de um dia com número de série. Aquilo que nem nós mesmos discernimos. É o que somos.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Medo


No vale da sombra da morte
A sombra da morte
O vale
Assombra

No vale da sombra da morte
Não vale
A morte,
Só a sombra.

No vale da sombra da morte
Na sombra, o vale:
- Morte à sombra!

No vale da sombra da morte
A sombra:
Morte.
O vale:
A sobra.

Nu vale
Sem morte

Som

Som
Da sombra

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Ares e bocejos


E pra passar o tempo, ele boceja. Boceja porque a vida é sem graça e como toda piada mal contada, ela se perde em meio a um sorriso amarelo. Enquanto ele boceja, finge. Finge que não dói não ser feliz. Finge que se importa com os outros, ao entender que o outro é uma parte de si mesmo manifesta em forma maltrapilha de existir. Finge brilhantemente, com a destreza de um contorcionista, que é um homem à frente do seu tempo. Como se precisasse ser um homem à frente para não olhar para os lados.
Porque, como num dia de festa, ele descobriu que pra viver é preciso dizer quando não se quer falar, bocejar enquanto não sente sono, comer quando não se está com fome. Desde que todos queiram. Essa é única maneira de ele se importar com quem não reflete a mesma imagem que ele vê no espelho.

terça-feira, 25 de maio de 2010

Jogo




No naipe de Lenine
Transformando perda em recompensa
Jogo à mesa Ases de Clarice
Porque estar também é dar
Com meus curingas de Machado
Amontôo Amizades Sinceras, Felicidades Clandestinas
Entre O Espelho absorto
O Enfermeiro abstrato
É minha vez
E dessa vez, só quero o que me interessa
Na MINHA vez no jogo
Triunfo
Na MINHA vez, decido...
Passo.

É o Que Me Interessa






Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem.
Quem vai virar o jogo
E transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado
Só de quem me interessa.
Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Me traz o seu sossego
Atrasa o meu relógio
Acalma a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurra em meu ouvido
Só o que me interessa.
A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa.

Lenine

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Basílica

Não te amo
E o meu não te amar não é o de Neruda
É o visgo da certeza do não
Limo de sereno de amar pequenas partes
E isso me basta com limão e gelo – obrigada

As pequenas partes, te sirvo à imagem e semelhança do eclipse
Revelada timidamente e em mistério
Posto que é o eclipse o real do meu amor non sense
E do meu não te amar circunspeto como sinal de nascença

São verdades que partem de certezas Basílicas
De saber que o que quero não cabe em ti
Tudo é pouco para o que quero
Tudo é parte

A foto serenada, parte
O vulto a céu fechado- parte
A imagem de criança – parte
O livro que não li- metade
Não é você.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

O País de Quarentena

Depois da gripe do frango, gripe suína, vacas loucas, e todas as epidemias (por toda a cadeia alimentar) que o mundo já conheceu, não há maior, mais intrigante e curiosa que a cientificamente chamada futeboulis febreris. Recentemente o Governo Federal elaborou uma cartilha explicando os sintomas que a acompanham. Esta dizia mais ou menos assim:

1- Ao contrário de todas enfermidades acompanhadas de febre, as pessoas acometidas por futeboulis febreris não permanecem deitadas em suas camas, pelo contrário, ficam de pé e vez ou outra pulam todas juntas;

2- Tais pessoas não ficam sonolentas ou querem que faça-se silêncio… com os olhos muito atentos, gritam, berram como se estivessem sofrendo;

3- Numa espécie de delírio, sorriem e choram quando ouvem uma voz gritando um monossílabo extenso terminado em “…ooolllll”. Este grito é repetido diversas vezes pelos pacientes;

4- Cuidado! Apesar de a moléstia ser contagiosa, as pessoas não ficam isoladas. Recomenda-se que não se sigam os impulsos incontroláveis de chamar amigos para reuniões onde se dividem alimentos, porque, como era de se esperar, esta doença não tira o apetite, mas aumenta-o consideravelmente;

5- Quando estão sob a atuação da febre, as pessoas perdem sua pigmentação original, uns ficam cobertos por um tom amarelo-esverdeado, outros por tons verde-amarelados. Depende muito do DNA.

O mais curioso é que a doença ocorre apenas de quatro em quatro anos, dura trinta dias e ainda assim não há como fazer um antídoto eficaz, tendo em vista a evolução vertiginosa do quadro. Sua atual variação ganhou o nome popular de “penta” e se faz previsões de que a próxima nomenclatura será a “hexa”, talvez seja por esse motivo que a tal futeboulis febreris, popularmente chamada de febre de futebol, seja considerada incurável, mesmo com todo o avanço da medicina.


Liliane Souza
15 de julho de 2006, atualizado em 19 de maio de 2009

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Canta Vanessa


Deixe meu cabelo em paz
Alise minha pele que é a parte viva do meu corpo

Deixe meu cabelo em paz
Porque é guerra que eu quero
-da garra inofensiva femme

Deixe meu cabelo em paz
Não reconheço o gosto do gosto deles
Nem suas imagens narcisolistício


Deixe meu cabelo em paz
É a minha honra desonrando o mundo

Deixe-me cá
A terra saboreando as eras em meu rosto
O crespo do cisco inquietando olhos azuis piscina

sexta-feira, 16 de abril de 2010

"Seu maior medo é o que lhe acontece".


Não sei se foi frase de filme, se foi de pára-choque de caminhão, ou provérbio chinês, mas essa frase é a mais pura verdade.
Meu medo de morrer na praia depois de beber o mar, só me serviu de uma coisa: pra descobrir que a morte tem gosto de água salgada.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A reflexão sobre o óbvio pode ser reconfortante


Tem um joguinho no celular que é simplesmente filosófico. Consiste basicamente em colocar as bolinhas nos espaços vazios e ganhar pontos à medida que as cores vão se completando. Mas calma... Essa não é a melhor parte. A melhor parte é que quando você pensa que está totalmente perdido, quando nada combina com nada, um verdadeiro caos, é aí que chega uma bolinha extra, tipo mágica e elimina todas as outras que correspondem à sua cor. Não deu pra entender nada, né? Mas tudo bem. Fica então a moral disso tudo: quando a gente pensa q está perdido, o elemento X aparece e tudo se resolve, como se nada tivesse ocorrido. Eu adoro quando isso acontece no meu dia-a-dia. Num momento o sufoco, no outro a providência. E mais uma vez a gente está pronto a recomeçar. Para uns, um Xeque Matte, para outros, Game Over.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Tão singelo, simples... tão real.

Só deixo minha alma na mão de quem pode (Trilha do filme Não Por Acaso)

Só deixo meu coração
Na mão de quem pode
Fazer da minha alma
Suporte
Pr’uma vida
Insinuante
Insinuante
Anti-tudo que não
Possa ser
Bossa-nova hardcore
Bossa-nova nota dez
Quero dizer
Eu tô pra tudo nesse mundo
Então só vou
Deixar meu coração
A alma do meu corpo
Na mão de quem
Pode
Na mão de quem
Pode
E absorve
Todo céu
Qualquer inferno
Inspiração
De mutação
Da vagabunda intenção
De se jogar
Na dança absoluta
Da matança
Do que é tédio
Conformismo
Aceitação
Do fico aqui
Vou te levando
Nessa dança
Submundo pode tudo
Do amor
Porque não quero teu ciúme que é o cúmulo
Ciúme é acúmulo de dúvida, incerteza
De si mesmo
Projetado
Assim jogado
Como lama anti-erótica
Na cara do desejo mais
Intenso de ficar com a pessoa
E eu não tô à toa
Eu sou muito boa
Eu sou muito boa pra vida
Eu sou a vida
Oferecida
Como dança e não
Quero te dar gelo
Jealous guy
Vê se aprende
Se desprende
Vem pra mim
Que sou esfinge do amor
Te sussurrando
Decifra-me

Só deixo minha alma
Só deixo o coração
Só deixo minha alma
Na mão de quem pode

Só deixo minha alma
Só deixo meu coração
Na mão de quem ama solto

Eu vou dizendo
Que só deixo minha alma
Só deixo meu coracão
Na mão de quem pode
Fazer dele erótico suporte
Pra tudo que é ótimo fator vital

Fausto Fawcett voz
Marcos Cunha wurlitzer e melotron
Plínio Profeta programações e baixo
Rodrigo Campello violão de sete cordas, cavaquinho e violão produzido por Plínio Profeta e Marcos Cunha
2003 Só Deixo Meu Coração na Mão de Quem Pode

Infausto dia.

E como andam os renomados?

Andam com pés descalços?

Se vestem como gente?

...

E como ficam os inomináveis?

Envergam-se tal qual bambu?

Ou esperam passar a chuva como bons cães de raça?

Não saber as respostas não me faz diferente. Os e os são como são. Andam como querem. Enquanto isso, espero o sol com pés molhados de lama. Infausto dia.

terça-feira, 30 de março de 2010

Muriçocas

O que me faz sofrer são coisas tão insofríveis que tenho vergonha de sofrer por mais de cinco minutos. Sofro o insofrível antecipadamente ou não. Não é aquele sofrimento cristão, um digno de se sentir talvez. É um meio "judascariotisiano" que trai a mim mesmo com um beijo. Sofrer o insofrível é ridículo demais para sequer citar. Não vou perder meu tempo, não vou contá-los antes de dormir, apesar de ter meu tempo roubado por esses sofrimentozinhos-muriçoca de a partir das seis horas da noite. Se elas vem, é porque janelas estiveram abertas. Sim, estão todas escancaradas. E a força para fechá-las? Ouço: “Esqueça as janelas”. “Esqueça as muriçocas, são pequenas demais”. Sim, são pequenas demais, eu sei , mas como incomodam as malditas! Sinto essas pequenas picadelas que torturam e resultam numa obra de arte: as marcas em minha pele. Definitivamente não sou fã de arte.
Amanhã levantarei mais cedo. Assim terei mais tempo antes das 18hs, porque depois, tudo é zummm.

Olhos despoetizados

Nos olhos despoetizados nada canta
Ou vela à noite- dia
Nos olhos despoetizados: o avesso
São cabelos que caem
E uma boca cega de nascença
E uma vontade de atirar a mancha-crença
Ou um dia todo a olhar o sol
Nos olhos despoetizados: maré
Seca de mangue, sangue
Que junta a si o lodo de déspotas
Poeira de estrada virada
Avessos
Avessso
Vida despolitizada
Canções desmetrificadas
Sol

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Passo Poeira Pop Up

É um sentimento pop up. Assim thum. E você sente tudo. Parece um viral. E você vil, inerte, vrum, esquece o que há ao seu redor. Desconhece seu próprio nome, sua idade, sua nacionalidade. Vem assim com a certeza de que tudo vai se transformar num absoluto absurdo. Do nada. Do tudo. Não tem nome. Não precisa. O motivo? Quem quer saber? Pra que saber? É sim o que te arrebata. É convicção. Sim. Sim. Não. Não. Vai se acabar. E quando o horizonte que ele abre se apontar na sua testa, não vai restar mais nada. A poeira do dia vai virar espaço cósmico. E quem vai sentir falta? Do nada, o tudo. E depois que passa, sentir a mesma nostalgia do cotidiano, mas sabendo sempre que um dia de repente sentirei o mesmo caos aliviador de um pop up invisível.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Elas

A surda- muda
A artesã
A vaga abunda
A freira terçã
A mãe solteira
A vó que tudo sabia sabidinha
A menina sabiá
A branca preta pretinha
Caminha por minhas pernas largas
Escalam as minhas vivas veias
Mergulham em minhas tranças loucas
Fazem sarau em meu dia
O dia todo dançam:
Poesia

Amostras Grátis

O sim conserva o perfume das estrelas
O não, das bocas de lobos abertas, escancaradas
O talvez exala o erotismo das esperas
O agora e o nunca, um só pó aromático,
Convidativo se bem conservado

De tudo que tenho e posso
Não abro mão disso: das pequenas amostras de mim.