domingo, 3 de novembro de 2013

Cidadania, virtualidade e a forma-sujeito capitalista


De todos os conceitos de cidadania apresentados no texto “Breve percurso histórico em torno do conceito de cidadania” o que mais me chamou a atenção é o de categoria potencialmente agregadora. E isso me faz lembrar um dos temas discutidos no último texto: o virtual. O virtual como potência. O virtual como complexo problemático.  Uma potência que vai além do digital, sendo este apenas uma de suas muitas formas.
Como categoria potencialmente agregadora, a cidadania é um equalizador de interesses, que trabalha as especificidades da vida em sociedade tornando-nos seres convivíveis. Nestes termos, seria impossível falar em cidadania e não me lembrar da “forma-sujeito histórica” conceito proveniente da Análise de Discurso. Este diz respeito à nossa atual fase histórica, o capitalismo, e a forma como os discursos tornam os homens seres individualizados.

Bem, novamente faço um contraponto com a Análise de Discurso, porque através dessa corrente teórica observo o mundo e os homens de maneira diferenciada, interpreto o tempo presente e as pessoas por meio de leituras acionadas por links desta ou daquela palavra/matéria/figura/fala/discussão em sala de aula. O hyperlink dessa vez foi desencadeado pelo termo “cidadania”. Voltemos a ele.

Na era da tecnologia, a cidadania tem escala global. Pensando pelo viés da Análise de Discurso, podemos ainda dizer que as tecnologias são formas do homem se significar, ou seja, é a própria ideologia em ação, promovendo efeitos de evidência do sujeito e do sentido. Como a forma-sujeito capitalista é sustentada pelo jurídico - e aí entram os direitos e deveres- percebo que a questão da cidadania se relaciona com as formas de se relacionar com o poder, a cidade e os cidadãos. E nesse processo, as novas tecnologias cooperam para emergirem gestos de cidadania jamais vistos. Primavera Árabe, Ocupy All Streat, “Vem pra rua”, me vêm à memória neste momento.

Para não me perder nesse rizoma, faço este último clique: pensar nestes novos gestos de cidadania como formas de resistência dos sujeitos, práticas que só são possíveis pelo fato de o Estado não ter total controle sobre suas articulações com o simbólico. A ideologia como um ritual com falhas encontra sua vulnerabilidade e estas práticas de cidadania que extrapolam as barreiras geográficas tomam espaço, vêm na contramão, questionam o atual estado da educação, política, economia pelo país e pelo mundo, afinal não há limites para o ser cidadão na sociedade atual.

Concluo este post sugerindo uma leitura que trata mais a fundo a questão da forma-sujeito histórica: o livro “Discurso em Análise” de Eni Orlandi no capítulo “Por uma teoria discursiva da resistência do sujeito”.


3 comentários:

Unknown disse...

OI Liliane...
De fato temos hj um novo contexto de exercicio de cidadania. Se antes precisávamos apenas reunir pessoas nas ruas para fazer nossas caminhadas e protestos,hj, além das ruas, temos a possibilidade de agregar pessoas em utilizando a rede para formar redes em espaços geográficos reais e virtuais.

Poetisa Negran disse...

Uma cidadania para além da polis se constitui, e dentro dela os sujeitos constituem-se e são constituídos...e infelizmente as vezes a cidadania digital, global, glocal atravessam os indivíduos e compõe no agora e no devir um cidadão universal que tem suas subjetividades (lutas singulares) cooptadas pela objetividade capitalista, que transforma até a cidadania num souvenir.

Cássia disse...

Interessante contextualiza a leitura com os seus conhecimentos da sua área. É importante essa relação, pois assim a escrita fica com a nossa marca digital. Cássia.